BALÕES NO CÉU, RISCO NO CHÃO
ANAC prepara nova regulamentação para o balonismo no Brasil
Por Junior de Carvalho
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Fonte: reportagem de André Borges para a Folha de S. Paulo (07/07/2025)
Por Junior de Carvalho
Nos últimos meses, o balonismo no Brasil, uma das atividades turísticas mais encantadoras do país, entrou em turbulência. E não é força de expressão: entre junho e julho, dois acidentes graves – um em Boituva (SP) e outro em Praia Grande (SC) – deixaram mortos, feridos e uma pressão sem precedentes sobre autoridades aeronáuticas. A resposta da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) veio na forma de um plano emergencial de regulamentação, que começa a ser colocado de pé a toque de caixa.
A situação atual: voando sem controle
Apesar da popularidade crescente dos voos de balão no Brasil — com destinos queridinhos como Boituva (SP), Jaraguá do Sul (SC) e a região de Piracicaba — nenhuma empresa comercial de balonismo é certificada pela ANAC até o momento. Sim, você leu certo: nenhuma.
O que existe hoje é um vácuo regulatório onde empresas se amparam em regras mais leves, voltadas ao balonismo esportivo, e operam passeios comerciais como se fossem recreação de fim de semana. Segundo a agência, quatro empresas chegaram a solicitar certificação, mas nenhuma concluiu o processo.
O plano da ANAC: três fases até novembro
A ANAC vai construir o novo marco regulatório do balonismo em três etapas:
1. Fase emergencial (a partir de agosto/25)
Será implementado um conjunto mínimo de exigências para autorizar voos comerciais. O foco estará em segurança operacional, condições técnicas mínimas, autorização de pilotos e equipamentos certificados. Esses critérios ainda estão em discussão, mas já servem de filtro inicial.
2. Regra de transição
Quando a regulamentação definitiva for publicada (prevista para novembro), as empresas entrarão em um período de adaptação. Elas terão de atender normas intermediárias, mais robustas que as atuais, mas ainda flexíveis frente ao que virá a seguir. A duração desta etapa ainda será definida.
3. Regulamento definitivo
Essa será a regra oficial para o balonismo comercial no Brasil. Ela incluirá:
Certificação formal de empresas;
Habilitação técnica de pilotos e tripulantes;
Padrões de manutenção e segurança;
Fiscalização ativa da ANAC e parceria com forças de segurança, prefeituras e associações do setor.
⚠️ Onde a corda arrebenta?
Enquanto a nova norma não chega, os riscos se acumulam. A cidade de Praia Grande (SC), palco do acidente que matou oito pessoas no último dia 21 de junho, reconheceu publicamente que não há qualquer tipo de fiscalização municipal sobre a atividade.
Já em Boituva (SP), considerada a capital nacional do balonismo, a situação também preocupa: a empresa Aventurar Balonismo, envolvida na morte de uma turista em junho, voltou a anunciar voos mesmo sem autorização legal e sem laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros. A prefeitura denunciou a empresa, que também teve o pedido de inscrição municipal negado.
Por que isso afeta você, viajante?
Se você já comprou ou pretende comprar um voo de balão no Brasil, agora é a hora de redobrar a atenção. Veja algumas dicas básicas do UaiSôMochilando:
Exija informações claras: qual a empresa responsável? Ela tem certificações? Qual a experiência do piloto?
Confira o equipamento: pergunte a data da última manutenção, quantas pessoas vão voar e qual o limite técnico do balão.
Evite promoções exageradas: empresas sérias não oferecem pacotes de voo com café da manhã, champanhe e brindes sem antes garantir a segurança mínima.
Prefira empresas com sede física e reputação conhecida: fuja de reservas feitas apenas via WhatsApp ou Instagram, sem CNPJ ou contrato.
Conclusão: balonismo é mágico, mas não pode ser selvagem
O balonismo é uma das formas mais poéticas de se ver o mundo do alto. Mas entre o nascer do sol e a segurança da vida, a escolha é óbvia: precisamos de regras, fiscalização e responsabilidade. O novo plano da ANAC chega tarde — após vidas perdidas —, mas pode finalmente colocar o Brasil nos trilhos de uma aviação turística profissional e segura.
Enquanto isso, nosso conselho segue firme: pesquise antes de voar e valorize empresas que operam com seriedade. Porque o céu é lindo, mas só vale a pena se for pra voltar pra casa.
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Fonte: reportagem de André Borges para a Folha de S. Paulo (07/07/2025)