FESTIVAL "IGARAPÉ BEM TEMERADO" CHEGA A 15ª EDIÇÃO

GASTRONOMIA

Festival "Igarapé Bem Temperado" chega a 15ª edição.

Foto: Carlos Stan

O evento acontece de 18 a 21 de maio, na Praça Miguel Henriques da Silva, marcando quase duas décadas de história de valorização da cozinha que vem dos quintais das Mestras da Culinária de Igarapé

O prato "Joelho de porco com angu e mostarda" [foto de capa] é criação da Mestra Aparecida Coelho. O prato está na programação do "Igarapé Bem Temperado"...

Iniciado em 2005, o Igarapé Bem Temperado – Festival de Culinária e Cultura retornou suas atividades em setembro de 2022 e comprovou seu prestígio, levando milhares de pessoas da cidade e de outras partes de Minas, para a principal Praça de Igarapé, em seus 4 dias de festa que celebra a culinária que tem na tradição dos quintais sua marca identitária mais marcante.

A cidade que fica a 45 Km de Belo Horizonte, há 19 anos, em 2005, indo na contramão da hegemonia da alta cozinha, como era comum à maioria dos poucos festivais que despontavam na época, fez surgir, e consolidou um festival que foi, de certa forma, pioneiro, uma vez que seu idealizador e curador, Carlos Oliveira Stan, criou um projeto que colocou em cena cozinheiras do lar, em sua maioria com mais de 60 anos, e foi, junto com estas Mestras, em busca de restaurar o legado da cozinha antiga local e o uso de ingredientes que estavam aparentemente esquecidos.

O foco do IBT, desde o início, foi a cozinha simples da tradição dos quintais e o legado culinário mantido e transmitido por um grupo de senhoras aposentadas que o projeto agrupou e empoderou, colocando estas personagens em posição de destaque na cena da gastronomia mineira. A organização de uma narrativa patrimonial regida pela curadoria do festival deu voz e lugar de reconhecimento para o grupo de cozinheiras participantes, tanto no âmbito local como regional.

Segundo relatos das próprias Mestras, o surgimento do IBT deu um novo sentido para as suas vidas. E elas souberam e continuam sabendo aproveitar este reconhecimento, saíram da quietude de suas aposentadorias e transformaram seus saberes e talento na cozinha em fonte de renda e alegria, motivando as novas gerações de cozinheiras a prosseguirem valorizando este importante legado cultural que guarda marcas de um longo percurso histórico.

Essa edição será marcada pela apresentação do reconhecimento público de uma nova leva de Mestras da Culinária de Igarapé, e ainda, pela presença de chefs proprietários de bistrôs na Região, que tem se destacado, referendando em seus cardápios uma cozinha que dialoga com o mote temático tratado pelo Igarapé Bem Temperado.

Muitas das Mestras pioneiras do festival já não estão mais atuando no cotidiano de suas cozinhas, a maioria das que participam do festival desde o início, já estão com mais 80 anos, a exemplo, Mestra Maria do Sindicato, 80 anos, que ainda cozinha durante o festival. Já a Maria do Freguesia, 93, não está mais na lida da cozinha, mas faz questão de estar com as filhas e netas que participam do festival, dando prosseguimento à tradição.

Notamos que um ciclo está terminando e outro se abre ao futuro, com novas cozinheiras assumindo as panelas para levar adiante o legado da culinária local. Simone Alves, Maria de Fátima, Cléia Ribeiro, Cida Lage, Cida Ferreira, Estania Moura, Ana Egg Hilbert, Efigênia e Luzia Santos Oliveira são cozinheiras que recebem a partir desta edição o reconhecimento simbólico de Mestras da Culinária.

É bom lembrar que, como estas que estão participando do festival, na cidade existem inúmeras outras cozinheiras que fazem parte desta tradição. Portanto, podemos considerar que a salvaguarda deste nosso patrimônio histórico e cultural está garantida e prosseguirá sendo passada para futuras gerações.

A tradição dos quintais está longe de se extinguir, pois para cada quintal que deixa de existir no centro da cidade, há vários anos, observamos que vem ocorrendo o fenômeno do deslocamento desta tradição para os espaços denominados “sítios de final de semana” ou as tais “rocinhas”, porção de terrenos ou chácaras que são adquiridos por famílias que, por terem forte ligação com a culinária “antiga” e a tradição dos quintais, acabam criando essa nova modalidade de quintais e cozinhas, em outro contexto, mas que garante os insumos básicos para que cultura da cozinha tradicional local encontre as condições propícias para prosseguir adiante.

Das Mestras pioneiras do IBT que, ainda participam diretamente ou com apresentações no espaço Cozinha Show, para essa edição teremos a participação de Maria do Sindicato (80 anos), Altivina Fonseca (80 anos), Maria Aparecida Coelho (76 anos), Dolores Henriques (76 anos), Elzira Ribeiro (84 anos), e também temos o caso da estreia da Marlene Almeida (66 anos).

Ainda temos outros expositores, na modalidade de doces, quitandas e licores, com destaque para a Mestra Cecília Queiros, Mestra Beth dos Licores, Dilson Radespeil e as jovens quitandeiras, representantes da família Couto, Cláudia e Edneia.

Com objetivo de ampliar a experiência de diálogo da cozinha da tradição dos quintais das mestras com a gastronomia contemporânea, o festival, desde o início sempre contou com a presença de chefs e pesquisadores convidados. Para essa edição, o festival convidou duas casas gastronômicas que vêm se destacando na Região.

De Betim teremos a presença de Rodrigo Costa, chef executivo da Casa Ybirá e de São Joaquim de Bicas o festival receberá Reinaldo Mendes, chef executivo da Casa do Rei Bistrô. A novidade é que além de apresentar um workshop no Cozinha Show do IBT, os dois chefs terão stand para cozinhar no festival, durante os 4 dias.

Os chefs convidados chegam mostrando o uso dos ingredientes dos quintais em diálogo com adaptações de preparos clássicos de cozinhas de outras culturas.

Chef Reinaldo Mendes transformou o ora-pro-nóbis em um delicioso molho pesto que dá um toque especial à tradicional carne de lata servida com creme de abóbora e acompanhada de crocante de tomilho. Um prato acertadíssimo, um exemplo de como levar à mesa as coisas simples de nossa culinária de origem caipira de forma harmoniosa e elegante.

Chef Rodrigo Costa, fez experiências com algumas PANC dos quintais de Igarapé e escolheu a bertalha. Foi uma excelente combinação, uniu a cremosidade desta suculenta folha com o seu risoni de frango. E ainda vai no prato uma telha de angu que tem o aroma e o sabor especial de um queijo da canastra.

E para a nossa surpresa, teremos a participação de dois chefs, nascidos e criados em Igarapé, que também estarão cozinhando os 4 dias do festival.

Chef Welinton Maciel chega ao IBT com uma receita utilizando ingredientes que fazem parte da própria compreensão da história de formação da nossa cozinha. Sua canjiquinha às natas, com entrecosto, maxixe e beldroegas ficou um verdadeiro espetáculo de sabores.

Chef Gustavo Rodrigues chega para a sua estreia no IBT com um arroz de porco que está muito bem executado e com ótima harmonização de sabores. E ainda leva umbigo de banana, ora-pro-nóbis e milho assado.

Tudo indica que a cultura da culinária de Igarapé, além de um novo ciclo de mestras que passarão a escrever suas histórias, como fizeram as pioneiras do festival, a cidade pode estar às vésperas do início de uma “evolução” em relação cozinha local, pelo menos no que diz respeito a ideia de aproveitar mais o potencial gastronômico que, há quase 20 anos, tem sido exposto na narrativa do Igarapé Bem Temperado.

Trazer o Igarapé Bem Temperado para essa época do ano já era algo que tínhamos em mente. Mesmo quando o festival era realizado em julho, as mestras relatavam a grande dificuldade que era conseguir certas verduras, muitas delas mais comuns nos meses após as chuvas de verão. Ademais, como tem afirmado as próprias mestras, “o mês de maio é um mês de clima agradável, já com um friozinho bom para saborear as comidas de nossa predileção e ainda é o mês de Maria”.

De fato, tudo está favorável! Teremos até uma receita com favas, mais comum de se encontrar no mês de maio. Com a fartura dos quintais nessa época, taioba, ora-pro-nóbis, beldroega e bertalha também já estão na lista de receitas que teremos no festival.

Os wokshops degustações do espaço Cozinha Show, além de receitas com Mestras locais e chefs convidados, terá mais uma vez a presença de chfs e pesquisadores do slow food. Entre os destaques teremos a demonstração da carne moqueada no forno a lenha, com a presença das Mestras Lucília, Luzia e Efigênia e momentos de atividade de “Exercícios Memória Culinária”, com direito fornada de biscoito no forno a lenha, chás dos quintais, café e bate papo com Mestras da “velha guarda” da Culinária de Igarapé.

E a tradicional oficina culinária para crianças fará menção ao inventário do patrimônio histórico e cultural de Igarapé. Chef Hellen Campos fará a reinterpretação dos biscoitinhos de nata com amendoim, inspirada no registro de uma receita de Grenadir Aguiar, atualmente com 80 anos, ela foi uma das entrevistadas na época do início do festival.

Como exemplo mais autêntico do mote temático principal do IBT temos algumas joias nessa edição, como o joelho de porco com angu e mostarda - (Mestra Aparecida Coelho e Jesus), galinha caipira com pé de porco, couve e angu de puro milho verde (Mestra Simone Alves), piaba com angu, feijão com toucinho defumado e cansanção (Mestra Maria de Fátima), entre outros.

Além destes pratos citados, somando os mais de 20 expositores, durante o festival o público irá se deliciar também com variada oferta de quitutes. Não fugindo da tendência atual, os bolinhos estarão em grande estilo, por exemplo, bolinho de língua de boi com molho de limão capeta, bolinho de costelinha com molho de pequi, bolinho de mandioca com queijo, croquete de porco com molho de goiabada, pastel de angu, (e até bolinho de feijão vegano), entre outros.

E não ficam de fora, as compotas de doces de frutas dos quintais, licores, geleias e outras delícias. São mais de quarenta variedades de gostosuras inspiradas na tradição da cozinha das mestras.

Música boa para harmonizar com o ambiente da nossa cultura culinária

Durante o festival além da programação culinária acontece também apresentações musicais que tem curadoria voltada para gêneros como choro, samba canção, bossa nova e “mpb”. Como destaque musical teremos a presença do Trio Amaranto que, pela primeira vez tocará em Igarapé e traz para o festival o espetáculo “Amaranto Canta Beatles”. Vários outros grupos e artistas locais e regionais se apresentaram durante os 4 dias do festival. Programação completa em anexo.

A realização do festival, atrai para a cidade milhares de turistas que, somados ao público local, nos 4 dias de festa, chegam aproximadamente a 20 mil pessoas. O evento corrobora com o aquecimento da economia local, favorecendo a geração de renda, contemplando além dos grupos diretamente envolvidos, os setores do comércio e serviços da cidade.

O aporte principal para a realização do 15ª Igarapé Bem Temperado está sendo viabilizado pelas empresas SADA e FORNAC por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais e substancial apoio institucional e estrutural da Prefeitura Municipal de Igarapé.

Mais informações através do Instagram @igarapebemtemperado!

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Até o próximo post!

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Fontes:  Nelio Souto | @neliosouto - O Tempo
Data: 18/05/2023  - 16:05
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